sexta-feira, 24 de julho de 2015

Na virada do século XIX ao XX, vir ao Brasil equivalia a cometer suicídio

Para erradicar a febre amarela, Oswaldo Cruz
empreendeu um plano de combate eficaz ao mosquito
Conta-se que, na passagem do século XIX para o XX, algumas agências de navegação francesas prometiam viagens seguras até a Argentina, sem passar pelos focos de febre amarela do Brasil. E mais: corria a notícia de que, somente no Porto de Santos (SP) já tinham morrido 35 capitães de navios por conta da doença...

Na biografia de Oswaldo Cruz, realizada por Marcos Moreira e supervisionada por Afonso Arinos de Mello Franco, consta o seguinte trecho, à página 74*:


No mês de outubro de 1895, chegou ao Rio, em meio a grande alegria, o navio italiano Lombardia, em visita de cortesia, ocasião em que o presidente Prudente de Moraes organizou uma homenagem à Itália, na qual a tripulação e a população confraternizaram animadamente. 
Em janeiro de 1896, contudo, a Inspetoria Geral dos Portos recebeu uma grave notificação: um tripulante do Lombardia adoecera de febre amarela. Os médicos do Serviço Sanitário correram para o navio e, subindo a bordo, confirmaram a existência da doença. Mandaram içar a bandeira amarela, que indicava a presença de doença contagiosa e o Lombardia levantou ferros, dirigindo-se para a Ilha Grande (litoral do Rio), onde ficou em quarentena. Apesar dessas medidas, a doença se espalhou pela tripulação como fogo na pólvora, e, no fim da epidemia, 234 dos 340 tripulantes tinham morrido e dos 106 que sobreviveram, apenas 7 não adoeceram. 
Não  é de estranhar, portanto, que os estrangeiros considerassem a viagem para o Brasil um sinônimo de suicidar-se e que alguns países europeus pagassem, aos seus diplomatas sediados no Rio de Janeiro, uma indenização pelo risco de morrer de febre amarela. 

Foi com base em informações como essas que Oswaldo Cruz conseguiu que seu plano de combate emergencial ao mosquito transmissor da doença fosse aprovado pelo governo brasileiro. Ainda que representasse considerável aumento das despesas no setor saúde (exíguas naquele tempo), a exposição de motivos de Cruz foi aceita e, em 15 de abril de 1903, foi criado o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela. 


A meta era a erradicação da doença do Rio de Janeiro, a Capital Federal, que contava, naquela época, com aproximadamente 750 mil habitantes. 

Apesar das dificuldades, houve sucesso, mas apenas depois da montagem de uma estratégia militar para combater os mosquitos Haemagogus (causadores da doença em áreas florestais) e Aedes aegypti (o vetor da doença em áreas urbanas) o mesmo que causa, hoje, a dengue.

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