segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Programa Consultório na Rua da SMS/Curitiba apresentado em roda de conversa do SOU+SUS

Na última sexta-feira, dia 21 de outubro, as psicólogas Adriane Wollmann e Thais Krukoski estiveram no NEMS/PR (Núcleo Estadual do Ministério da Saúde no Paraná) para apresentar o programa “Consultório na Rua”, efetivado pela Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (SMS/Curitiba) desde agosto de 2013. A concepção do programa aconteceu em nível nacional, sendo sua implementação promovida pelo Ministério da Saúde em 2011 em diversas cidades brasileiras, mas a SMS/Curitiba acabou desenvolvendo seu próprio formato para a iniciativa. O programa conta com quatro equipes, compostas por médicos, odontólogos, psicólogos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e profissionais de Serviço Social. Além disso, tem a seu dispor duas ambulâncias, especialmente adaptadas para o serviço prestado, e um trailer.  

A questão das pessoas em situação de rua é bastante complexa e demanda ações também complexas, que muitas vezes fogem aos parâmetros propostos pelos protocolos tradicionais praticados na área da Atenção à Saúde, tendo que ser adaptados. “É necessário que os procedimentos sejam adaptados para o atendimento às pessoas em situação de rua, os protocolos têm que ser flexibilizados, o que também como ocorre com as ambulâncias do programa, que são customizadas para o tipo de trabalho realizado, funcionando mais para levar as pessoas para atendimento nas unidades de saúde”, explica Adriane Wollmann. Ela diz ainda que problemas complexos não se resolvem com soluções simples. 

A população em situação de rua se caracteriza pela invisibilidade, o que significa dizer que a sociedade não costuma perceber sua existência, ou melhor, bem se pode dizer que procura ignorá-la. Desse modo, trata-se de gente que precisa de ser reconhecida e uma frase dita por um morador de rua, citada por Adriane, bem define o problema: “Não somos só drogados, somos gente e temos diabetes e hipertensão também”. Nesse sentido, observando a realidade dessas pessoas, cabe pensar na situação de quem vive na rua não apenas em relação aos porquês que as fizeram deixar a sua moradia e ir morar sob as marquises da cidade. “Precisamos entender não apenas o que levou essas pessoas a viver na rua; é importante entender o que fará essas pessoas sair dessa condição”, afirma. 

Odontologia na rua - Nos atendimentos, são feitos exames de rotina, como testagens para detecção do HIV e de sífilis. O trailer fica em locais fixos e há uma equipe de plantão todas as noites, circulando pela cidade. O programa conta, ainda, com um guarda-volumes para que a pessoa possa deixar em segurança seus pertences enquanto vai ao atendimento nas unidades de saúde ou durante o tempo em que necessita de uma internação. “Um dos diferenciais do programa em Curitiba é a presença de dentistas na equipe. A cidade foi a primeira a contar com esses profissionais para o atendimento à população em situação de rua e o fato é que embora tenha havido resistências a se consultar com os odontólogos no início, hoje isso não ocorre mais, pois a formação de vínculo vence o medo da cadeira do dentista”, diz Adriane. 

Mais visíveis - Segundo levantamento realizado pela prefeitura, há aproximadamente 1,5 mil pessoas vivendo na rua em Curitiba e apesar de muita gente dizer que essa população tem crescido, os números indicam que isso não tem ocorrido. “A diferença é que essa população ficou mais visível, por conta do fato de que tem se reunido em comunidades, principalmente por motivos de segurança, já que sozinho o morador de rua fica à mercê de ataques”, explica. 

O objetivo do programa, assim, é o resgate da cidadania dessas pessoas e, acima de tudo, o resgate do olhar sobre si mesmas. “O que se pretende é que a pessoa em situação de rua seja reconhecida como gente que é e não como bicho”, conclui Adriane. 

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