segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

O que é, afinal, essa tal "saúde"? (5)

Capítulo 5: A terrível peste que matou 75 milhões de pessoas  

A “Peste Negra“ foi uma pandemia (1) de peste bubônica que assolou a Europa em meados do século XIV. Como vimos na última postagem, havia condições ideais para a transmissão de doenças naquele tempo. As cidades e residências incentivavam o contágio: havia muita gente e pouca circulação de ar, tanto nas localidades e nas residências de pobres e ricos. 

Hábitos de higiene, como banhar-se, não eram nem de perto frequentes como são hoje. Tomar banho várias vezes no ano, digamos cinco vezes, era tido como prejudicial à saúde, veja só! Daí, você pode imaginar como cheiravam as pessoas e as residências. Conta-se que pelo menos dois banhos eram obrigatórios, notadamente para monges e fiéis: antes da Páscoa e do Natal. 
Peste Negra é o nome pelo qual a Peste Bubônica ficou conhecida naquele tempo e que matou algo em torno de 75 milhões de pessoas na Europa

Lavar roupas era mais raro ainda e, desse modo, pulgas, piolhos, traças, percevejos e outros bichos que adoram a sujeira estavam em toda parte, principalmente nas roupas usadas, sujas e fedorentas. 



A vestimenta dos médicos que
atendiam as vítimas da Peste
incluía uma máscara de pássaro
E tem mais: a água suja, usada, e até mesmo excrementos eram atirados muitas vezes pelas janelas ou, no caso das fezes, postos na frente do portão de casa. Uma das primeiras providências tomadas pelos higienistas, séculos depois, foi a de proibir essas práticas nefastas. 

Conseguir água limpa para beber e/ou cozinhar era algo bastante difícil e problemático, como também vimos na postagem anterior. E, falando em cozinhar, é bom saber que a dieta básica era predominantemente composta de pão, o alimento mais importante, e acompanhamentos, como carnes, legumes, queijo, peixe, gorduras e vinho. 

Mas, o pão não era o mesmo para nobres e plebeus. Aqueles, comiam o pão fino, de cor clara, enquanto os pobres tinham um pão escuro, feito de aveia. Essa diferenciação levou muitos escritores da época a definir a classe social com base na cor do pão consumido. 

Com tão pouca higiene e com uma alimentação pobre, adoecer e morrer não era tarefa das mais difíceis, principalmente para as crianças e, em especial, para os recém-nascidos. Chegar ao primeiro ano de vida era um feito e alcançar os dez anos era proeza para poucos. Era tanta porcaria que se pode imaginar o quanto havia de ratos pelas cidades e, consequentemente, pelas residências. 

Assim, surgiu a terrível Peste Negra. 


Pulgas assassinas
Peste Negra é o nome pelo qual a Peste Bubônica ficou conhecida naquele tempo e que matou algo em torno de 75 milhões de pessoas na Europa. Trata-se de doença gravíssima e, não raro, fatal, que é causada pela bactéria yersínia pestis, transmitida por animais roedores aos seres humanos, e que mata em 48 horas a maioria dos seres humanos contaminados e não imediatamente tratados. 

Os sintomas mais comuns da Peste Bubônica são febre alta, tosse seca no início e sanguinolenta mais tarde, aumento do batimento cardíaco, pele enegrecida nas axilas, virilhas e/ou pescoço, tremores, intolerância à luz, cefaleia, vertigens, apatia e cansaço. 

A transmissão acontece tendo como agentes os roedores, notadamente os ratos, que eram muitos nas cidades da Idade Média, ou, mais precisamente, eram as pulgas que os picavam e faziam o mesmo, depois, com seres humanos, que adoeciam e rapidamente pereciam. Após inoculada pela pulga, a bactéria se instala no nódulo linfático mais próximo e é dali que se multiplica, levando o corpo à falência dos órgãos vitais e à morte. 



Uma das terríveis representações pictográficas da Peste
Causas: desalinhamentos astrais ou castigo divino
Para perceber a gravidade da situação naquele tempo, basta saber que o tratamento para a Peste Negra ou Bubônica consiste em tomar antibióticos. Naquele tempo, como bem sabemos, não havia antibióticos...

Pior ainda: não se sabia qual a causa da Peste Negra e só no século XIX foi que se soube. Assim, os médicos, que não raro eram também astrólogos, não tinham muito como tratar os doentes, receitando apenas repouso, as tradicionais sangrias (que serviam para quase tudo) e alguma poção feita com base em ervas, com o inevitável isolamento, para tentar impedir novas contaminações. Só que o contágio não se dava pelos astros ou pelo ar, como os médicos acreditavam, mas pelas pulgas, conforme sabemos hoje. 

Para a população adoecer era simplesmente um castigo divino e todo castigo vindo de Deus era justo. 

Pode-se dizer que a importância da Peste, o seu lado bom, se é que se pode dizer algo assim, foi que tanta desgraça acabou levando o ser humano a modificar a sua forma de viver, principalmente nas insalubres cidades. Claramente, conforme visto, a higiene era algo de pouca importância e, o planejamento urbano praticamente inexistente. Isso é curioso, porque as cidades do Império Romano, em época anterior, eram mais higiênicas e planejadas, o que evitou que a Peste Negra se estabelecesse bem antes na Europa. 

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(1) Fala-se de Pandemia quando uma epidemia foge de todo e qualquer controle e se alastra em larga escala. 

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