A serpente que morde a cauda, representa a imortalidade. A metáfora é atribuída a Esculápio, mitológico Deus da Medicina |
Capítulo 3: A Medicina na Roma Antiga
Os romanos aproveitaram muito dos conhecimentos gregos em
tudo, inclusive na Medicina. Roma, o grande Império da Antiguidade, se fundou
basicamente na cultura da Grécia, embora tenha desenvolvido saberes e práticas
culturais com identidade própria, como ocorreu na terapêutica baseada em ervas,
orações e cantos que caracterizava os primeiros socorros no seio das famílias
romanas. Já no que diz respeito à Medicina Militar, essa influência parece ter
sido marcante.
Os romanos continuaram a tradição médica grega de dar mais atenção a fatores naturais em detrimento de fatores espirituais, embora mantivessem, assim como os gregos, crenças e práticas diretamente vinculadas à espiritualidade e, é claro, a medicina não estivesse livre de influências como essa
O símbolo da sabedoria e da imortalidade
A Serpente de Epidauro é uma figura cujo nome está ligado a um dos templos construídos
em louvor ao pai de Hígia, Esculápio, o Deus das curas e de toda a Medicina. Tudo indica que a referência leva em conta o formato circular do templo como o registro mitológico do Ouroboros (ou oroboro ou ainda uróboro), ou seja, a serpente que morde a própria cauda, representando a imortalidade (1).
A "Cloaca Máxima" era um sistema de esgotos que existia para preservar a higiene urbana e a saúde dos cidadãos romanos |
A serpente, afinal, representa, historicamente, a sabedoria e a imortalidade, na medida em que seria um elo entre o mundo dos
vivos, o nosso mundo conhecido na superfície terrestre, e o dos mortos, o mundo
desconhecido, os subterrâneos (há antigas crenças de que as serpentes
carregavam almas vindas do Hades, terra dos mortos). Já a alegoria com a taça
remete à cura por meio da ingestão de algo, no caso, os medicamentos.
Os primeiros
hospitais
Os "valetudinários" foram os primeiros hospitais de que se tem
notícia. Eram instituições militares que pretendiam agilizar o atendimento aos
soldados feridos e que se instalava na frente de batalha, como uma grande
enfermaria. Assim, os feridos não precisavam mais ser enviados a aldeias
próximas para atendimento e recebiam cuidados quase imediatos. Segundo se sabe,
os valetudinários surgiram durante o reinado de Augusto, imperador que viveu
entre 27 a. C. e 14 d. C.. Com esse recurso, as perdas militares foram
consideravelmente minoradas e, com os valetudinários vieram também os médicos
com formação militar específica, diferente dos médicos que atendiam as famílias
romanas.
Cabe dizer, ainda, que o planejamento militar romano levava
em conta, também, medidas precisas de higiene, de modo a, estrategicamente,
manter a tropa em boas condições de saúde e vitalidade, sem riscos do contágio causado
por condições insalubres dos acampamentos militares.
Galeno, médico grego que viveu em Roma |
Uma civilização higienicamente desenvolvida
Durante o império romano, se desenvolveram as técnicas
médicas, como a da cirurgia, inclusive com qualificação dos instrumentos
próprios para isso, como cateteres, fórceps e bisturis. Do mesmo modo, cresceu
a literatura médica e foram se definindo bem claramente as especializações, como
a urologia e a oftalmologia, embora tudo indique que os conhecimentos e as
práticas médicas levassem mais em consideração o todo, tomando como fundamento
a lógica grega do equilíbrio e harmonia do organismo com o ambiente. Os miasmas,
como as exalações pútridas emanadas de cadáveres, por exemplo, eram supostas
causas de contaminação, podendo levar à eclosão de terríveis epidemias. Aspirar
o ar contaminado poderia causar doenças.
Bem se pode notar que os romanos continuaram a tradição médica
grega de dar mais atenção a fatores naturais em detrimento de fatores
espirituais, embora mantivessem, assim como os gregos, crenças e práticas diretamente
vinculadas à espiritualidade e, é claro, a medicina não estivesse livre de
influências como essa. Não era raro que catástrofes, como pestes, fossem atribuídas
a castigos divinos. No entanto, iniciativas como a do estabelecimento do
saneamento urbano (vide a “cloaca máxima” romana, um engenhoso sistema de
esgoto) apontam para o fato de que os fatores ambientais concretos ganhavam
muita atenção. Assim, a lógica do contágio parece ter sido bem melhor
compreendida e a prática da quarentena foi intensificada.
Alexandria, a maior biblioteca
da Antiguidade
Em parte, o desenvolvimento da medicina romana adveio do
fato do império ter se estendido e a cidade de Alexandria ter sido conquistada.
Lá, nessa cidade localizada no litoral egípcio, havia uma grande biblioteca com
inúmeros e importantes tratados da Antiguidade, inclusive publicações acerca de
Higiene e Medicina. Tudo leva a crer que essa biblioteca foi muito importante
como local de pesquisa que abrigou sábios da Antiguidade. A maior parte dessas
publicações era formada por papiros.
A cidade de Alexandria é, atualmente, a segunda mais
populosa e um dos centros urbanos mais importantes do Egito e, no passado, teve
um farol que é classificado como uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo. Seu
nome, é claro, foi dado em homenagem a Alexandre, o Grande, imperador
macedônio. A livraria foi erguida por Ptolomeu I, sucessor de Alexandre e foi
destruída por um grande incêndio. Há
quem diga que a biblioteca do romance “O Nome da Rosa”, de Umberto Eco, também
incendiada no final do livro, não é mais que uma alegoria da famosa biblioteca
de Alexandria, na qual se perderam inúmeras obras importantíssimas para a
época.
Representação pictórica do incêndio da biblioteca de Alexandria |
Galeno, um dos gênios
da Medicina
Galeno (129/217 d. C.) foi um médico grego, nascido em
Pérgamo (território grego na Ásia, dentro do atual território turco), que viveu
sob o Império Romano e foi pioneiro nos estudos fisiológicos, notadamente nos
estudos anatômicos, pois se especializou na dissecação de animais, principalmente
macacos. Foi médico pessoal do imperador Marcus Aurelius e escreveu uma pequena
obra com o título "O Melhor Médico é Também um Filósofo". Assim como
os outros médicos gregos, como Hipócrates, Galeno trabalhava com a noção
central de equilíbrio do organismo com o meio.
Ele distinguiu as veias das artérias, os nervos sensoriais
dos motores e o sangue venoso do arterial. Formulou a hipótese de que o corpo
humano é comandado pelo cérebro e que são os rins os responsáveis por secretar urina.
Associou também a voz humana à laringe e seus conceitos foram importantes no
ensino médico até pelo menos o século XIX.
Foi Galeno quem demonstrou que as artérias conduzem sangue e
não ar, como se acreditava. O famoso médico descreveu, ainda, a caixa craniana
e o sistema muscular e nervoso e desenvolveu técnicas cirúrgicas, como uma para
correção da catarata. Suas concepções acerca do que ocorria no interior dos órgãos
eram errôneas, pois não havia, naquele tempo, tecnologia ótica. No entanto, só
recentemente foram corrigidas, com o avanço tecnológico que permitiu maior conhecimento
acerca do que se passa no interior do corpo humano.
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(1) Reza a lenda que, certa vez, Esculápio (também chamado Asclépio) feriu uma serpente que iria atacá-lo e observou que outra serpente a socorreu, trazendo na boca uma erva para a curar. Segundo essa história, aí estaria a origem de sua compreensão da importância das plantas e da alegoria que toma a serpente como símbolo da imortalidade.
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