segunda-feira, 3 de julho de 2017

Rede Cegonha foi o tema do terceiro encontro do SOU+SUS em 2017

A apresentação dissecou o programa, com inevitáveis elogios às boas propostas, como a do parto humanizado, e observações críticas com relação a algumas dificuldades, inclusive de natureza política, mas também à má-fé de maternidades que tentaram burlar a auditoria do Ministério da Saúde

No dia 29 de junho o Projeto SOU+SUS realizou o seu terceiro encontro em 2017. O tema foi o Programa Rede Cegonha, do Ministério da Saúde, e a enfermeira obstétrica Regina Tanaka, do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC/UFPR) foi a palestrante. Os servidores que participaram do evento tiveram a oportunidade de conhecer o Rede Cegonha e de constatar que a assistência à gestante e à puérpera mudou bastante com a adoção das práticas do Programa.

Entre outras iniciativas, o Rede Cegonha propõe a mudança de modelo na assistência à gravidez, abrangendo o planejamento reprodutivo, que deve ser feito antes da mulher engravidar e com a participação do companheiro e da família. Outro tema importante na gravidez, algo que sempre ocasionou angústia às mulheres, é aquele relativo a ter a garantia de realizar o parto em local conhecido. Mas, o Ministério da Saúde, por meio do Programa Rede Cegonha procura resolver isso. “A pior coisa é a mulher engravidar e não saber onde vai ter o bebê e isso acontecia com muita frequência no passado. Não que isso não possa acontecer em alguns casos, mas com o Rede Cegonha a gestante tem o local previsto para o parto na sua carteirinha do Programa, o que não impede que ela possa até mesmo eleger outro local, por algum motivo especial”, explicou Regina. O mesmo acontece com relação a alguma intercorrência durante a gestação: a gestante tem a indicação de clara no sentido de aonde ir caso surja algum problema inesperado.

A redução da mortalidade materno-infantil é um dos principais objetivos, mas não apenas. Há a proposta de um parto humanizado, da assistência integral e especializada à criança por 24 meses e, acima de tudo, um incentivo à realização de parto normal, já que o número de cesáreas no Brasil é muito alto. “É importante mudar essa cultura, que em parte é sustentada pelos médicos, mas não apenas. Há muitas mulheres que não sabem, mas o nosso corpo foi feito para o parto normal”, disse Regina. Para que o parto tenha sucesso, porém, é preciso que seja bem conduzido. “Durante anos a episiotomia (1) foi rotina nos partos e isso não deve ser assim. A justificativa era evitar o rompimento do tecido do períneo, mas geralmente esse rompimento só ocorre se houver má condução do parto normal”, afirmou.

Presença do acompanhante é legal
Regina ressaltou a importância de se criar ambientes adequados para o parto, evitando que esse acontecimento seja transformado em um ato médico-cirúrgico, salvo em casos em que haja necessidade disso. A presença do acompanhante na sala de parto é um dos elementos que não apenas ajudam na hora do parto, como posteriormente, na vida do casal. “A presença do pai no parto ajuda a estreitar os laços do casal e isso traz boas consequências para os pais e, fundamentalmente, para a criança. Cabe lembrar que a Lei nº 11.108/2005 garante o direito à presença de acompanhante durante o trabalho de parto, parto e pós-parto imediato”, disse. Ela esclareceu ainda que, mesmo que o pai não possa estar presente, o hospital tem que, legalmente, permitir a presença de um(a) acompanhante.

Problemas políticos e má-fé
As dificuldades para a implantação do Rede Cegonha também foram apresentadas. Entre elas, foram citadas as desavenças políticas que havia entre o governo do Paraná, do PSDB e os governos do PT, o que motivou até mesmo a devolução, por parte do governo estadual para o Ministério da Saúde, das cadernetas produzidas para as gestantes do Programa. Mas, não apenas isso. “Teve maternidade que, quando avisada de que haveria uma visita de monitoramento e avaliação pela equipe do Rede Cegonha, alugava, por apenas um dia ou dois, os equipamentos requeridos para que o hospital se incluísse no Programa e fizesse jus aos recursos”, citou. Por conta disso, as visitas passaram a não mais ser anunciadas.

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(1) Episiotomia é o nome que se dá à incisão feita na região do períneo para ampliar o canal de parto. É justificada, em alguns casos, quando há sofrimento fetal. Até pouco tempo atrás, era prática de uso indiscriminado, o que significa dizer que era difícil o parto em que não se recorria a esse recurso. Hoje, é procedimento não recomendado, salvo em situações de risco para a mãe e a criança.

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