Representação de um oftalmologista egípcio |
Capítulo 1: A Medicina Egípcia
Definir o que é “Saúde” é tarefa difícil. Há inúmeros aspectos a
ser considerados e as definições costumam variar de tempo em tempo, de lugar
para lugar. A proposta deste texto, dividido em capítulos, é introduzir elementos
para auxiliar a quem se interessa pelas concepções do que seja a “Saúde” no
percurso da história.
Seguindo uma ordem cronológica, começamos pelo Antigo
Egito.
Uma civilização
avançada para sua época
Localizado no Norte da África, no vale do Rio Nilo, o Antigo
Egito compunha um complexo de civilizações localizadas ao longo daquele vale. Data
de aproximadamente 3150 a. C. o seu surgimento, tendo se desenvolvido nos três
milênios seguintes. Sua história é, assim, longa e complexa, sendo impossível
abordá-la de forma completa em poucas linhas.
A Medicina egípcia trabalhava com a noção de um corpo humano nascido saudável, mas que adoecia e morria por interveniência de agentes externos
Deixando as maldições de lado, é interessante saber que a
antiga civilização egípcia se adaptou muito bem às condições do Vale do Nilo,
lidando com habilidade com as inundações, que em parte já eram previsíveis, e
criando formas de irrigação que aproveitavam a água do Nilo. As boas colheitas
foram fundamentais para patrocinar avanços civilizatórios e os egípcios puderam
se dedicar a avanços técnicos e tecnológicos, notadamente na extração mineral, topografia,
arquitetura e engenharia. Além, é claro, de realizações significativas no campo
da Medicina, assunto focal deste texto, e também na Matemática. Dizem que o
sábio Pitágoras, que levou para a civilização grega a riqueza do conhecimento
matemático, ali aprendeu o que sabia.
Egípcios conheciam
bem a fisiologia
Os egípcios foram os primeiros a entender que as doenças têm
causas naturais, ou seja, são motivadas por agentes presentes na natureza, no
ambiente que nos cerca. Isso os levou a produzir remédios para sanar os efeitos
dos agentes patogênicos e a indicar ações básicas de prevenção.
Segundo o pesquisador Sameh M. Arab, médico que desenvolveu
estudos sobre a história da Medicina no Antigo Egito, a Medicina egípcia
trabalhava com a noção de um corpo humano nascido saudável, mas que adoecia e
morria por interveniência de agentes externos a ele. No caso de ferimentos ou
vermes intestinais, por exemplo, o agente externo maléfico é visível; no
entanto, as chamadas doenças internas eram atribuídas a forças resultantes de
castigos divinos infringidos aos mortais ou a feitiçarias. Segundo se
acreditava, era preciso primeiro neutralizar a força do mal para depois
operacionalizar um tratamento.
Os egípcios conheciam a anatomia e a fisiologia e obtinham
inegáveis sucessos no embalsamamento, conforme podemos constatar pelo perfeito
estado das múmias existentes até nossos dias. Desenvolveram, por exemplo, a
técnica de esvaziamento do cérebro através das narinas, utilizando um gancho
longo.
O mais antigo tratado
médico
O Papiro de Ebers data de aproximadamente 1552 a. C. e está em
exibição na biblioteca da Universidade de Leipzig. Acredita-se que possa ser
uma cópia do mitológico livro de Thoth (3000 a.C.), considerado por muitos o primeiro
médico, farmacêutico e alquimista da história. Seu nome vem do monge alemão Georg
Moritz Ebers (1837/1898), egiptólogo e romancista alemão, que o disponibilizou
ao público na década de 1870.
O tratado contém mais de 700 fórmulas de remédios para tratar
desde unha encravada até mordidas de crocodilos, além de soluções para livrar as
residências de moscas, ratos e escorpiões e descrições de males como diabetes,
tracoma e artrite.
Nas aproximadas 110 páginas do papiro, há ainda capítulos sobre
doenças intestinais, oftalmologia, dermatologia, ginecologia e obstetrícia,
incluindo temas relacionados à contracepção. O tratado também trata de intervenções
cirúrgicas sobre tumores e abscessos, além do tratamento de queimaduras e
fraturas e traz uma descrição surpreendentemente precisa do sistema circulatório
humano, incluindo a existência de vasos sanguíneos em todo o corpo e o coração
como o centro da circulação do sangue.
Até mesmo a psiquiatria tem uma seção especial, com uma
descrição daquilo que hoje definimos como depressão.
...
No capítulo 2, vamos saber como era a saúde para gregos e romanos, na
antiguidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário