No dia 05 de outubro o tema da roda de conversa do SOU+SUS
foi a Saúde Indígena e a servidora Mirca Longoni, hoje lotada no Serviço de
Convênios da Coordenação do Núcleo do Ministério da Saúde no Paraná, foi a
mediadora. Ela trabalhou por muito tempo na FUNAI (Fundação Nacional do Índio)
e no Distrito Sanitário Especial Indígena do Litoral Sul (DSEI), mais
especificamente na Casa de Saúde Indígena (CASAI) de Curitiba, tendo sido
responsável pelo excelente trabalho desenvolvido nela. Durante pouco mais de
uma hora, Mirca pôde esclarecer satisfatoriamente todas as dúvidas dos
servidores presentes em relação ao tema.
Inicialmente um breve histórico da Assistência à Saúde Indígena
foi apresentado. Mirca falou do tempo em que o exército era o órgão do Estado
brasileiro que tinha maior relação com os índios e lembrou a que a fundação da
FUNAI se deu em 1967, com o objetivo de tratar de todo e qualquer assunto
relacionado ao povo indígena no país. Houve um momento, segundo ela, que a
atenção à saúde indígena carecia de estrutura. “Havia, por exemplo, apenas um
ônibus com a equipe móvel que prestava assistência nas aldeias, isso para cinco
estados, logo não havia como prestar assistência de forma adequada”, disse.
Com a incorporação da Saúde Indígena à Fundação Nacional de
Saúde (FUNASA), buscou-se incluir os povos indígenas no Sistema Único de Saúde
(SUS), com um tratamento diferenciado que envolvesse o tratamento da doença considerando
os aspectos culturais singulares de índios e índias. Em 2010, foi criada a
Secretaria Especial de Saúde Indígena pelo Ministério da Saúde, com equipes
multidisciplinares e com a instituição de 34 Distritos Sanitários Indígenas
espalhados pelo Brasil e o respeito aos aspectos culturais foi mais reforçado
ainda. “É preciso respeitar a cultura do índio na assistência à saúde, ter em
conta que o pajé tem procedimentos próprios a essa cultura. Mas, há hospitais
nos quais isso fica mais difícil e, nesses casos, há a necessidade de realizar
reuniões com as equipes de saúde para falar dessa importância”, afirmou.
Choque de culturas
Mirca falou do choque cultural que leva muitos indígenas a
viver na perigosa fronteira estabelecida entre o modo de ser dos povos
indígenas e a sociedade dita branca. Muitos, inclusive, vivem com tamanha
dificuldade essa situação que o número de suicídios é bem alto entre índios,
sendo que o maior número de suicidas está entre jovens de 14 a 25 anos. Outro
problema que merece atenção especial das equipes de saúde é o alcoolismo, sendo
que, segundo Mirca, cada etnia indígena consome o álcool de maneira específica.
“O guarani é mais introspectivo, costuma beber sozinho, é mais depressivo; já a
etnia kaingang se caracteriza pela maior extroversão e a bebida é
compartilhada”.
Assistência especial
O tipo de adoecimento mudou com o tempo. Antigamente, eram
mais comuns as doenças respiratórias, como a pneumonia, agora chama a atenção o
aumento dos casos de câncer entre os indígenas. O HIV, por sua vez, está
controlado, mas houve alguns casos no passado. A assistência à saúde para os
povos indígenas é especial e se dá em primeiro lugar com o pajé. Se o problema
não for resolvido, o agente de saúde indígena é acionado e, se ainda
persistirem os sintomas, há o posto de saúde na aldeia. Em casos graves, é
feito o transporte do(a) doente para um hospital em uma cidade próxima, sempre
tentando, na medida do possível, combater a doença respeitando as diferenças
culturais.
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